Reflexões sobre campanha salarial, organização e valorização dos trabalhadores

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“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada. (…)”
(trecho do poema No Caminho, com Maiakóvski, de Eduardo Alves da Costa)

O tempo não tem sido aliado da classe trabalhadora. Isso é fato! Não precisa ir longe para constatar isso; basta uma rápida olhada nesse material produzido pela AFBNB em 2016 pra ver o quanto os trabalhadores perderam de lá pra cá e o quanto questões importantíssimas especificamente para os bancários do BNB não avançaram, ao contrário, foram relegadas a segundo plano por sucessivas campanhas salariais.

Entre as perdas imensuráveis, estão a aprovação da reforma trabalhista e previdenciária, que acabaram com direitos e flexibilizaram outros, tornaram as relações de trabalho mais vulneráveis, além do próprio desmonte do Estado e de suas instituições, pelo governo passado, o que obrigou a reconstruir o país quando devíamos estar avançado.

No BNB, em que pese resultados alvissareiros e números de aplicações de encher os olhos, aquela que deveria ser a principal pauta a nortear a luta da categoria – o Plano de Cargos e Remuneração (PCR) – não avançou concretamente um milímetro na última década e agora com o agravante de ser tratado sob sigilo (?). Para quem é novo no BNB, de maneira resumida, o Plano de Cargos tem 18 níveis e após alcançado o último nível o trabalhador fica congelado, por assim dizer, sem promoção. Há muitos funcionários com mais de 10 anos nessa situação e contando… O PCR, diferente do Plano de Função, é estável, e se fosse corrigido da maneira adequada, compatível a um banco de desenvolvimento, evitaria inúmeros problemas relacionados à função – hoje, principal instrumento de barganha dos gestores, assédios e competição desesperada entre os funcionários. Tudo isso, por sua vez, acarreta adoecimentos físicos e mentais.

A valorização dos trabalhadores, sobretudo quando desempenham uma missão diferenciada como é a do BNB, deve se dar no dia a dia! Na equidade de tratamento, na transparência das políticas internas, na lisura dos processos, nas condições adequadas ao desempenho das atividades, no ambiente sem hostilidade e perseguições, no estímulo à coletividade e à confiança entre os pares, na empatia, no zelo ao recurso público e ao cliente. Isso nada tem a ver com atribuir “estrelinhas” aos funcionários por seu desempenho, ao contrário, é tratá-los com dignidade, respeito, hombridade.

O trabalhador não pode aceitar migalhas e nem se conformar com o mínimo sob o risco daquele mínimo se tornar o máximo possível. Um exemplo: na nota que acompanhou essa imagem (em 2016 relembre aqui https://www.afbnb.com.br/greve-dos-bancarios-28-dias-de-muita-resistencia-por-conquistas-gerais-e-especificas/) o acordo bianual era tratado como “ideia absurda” porque desmobilizava o trabalhador das lutas, enfraquecia o movimento. Hoje já não se questiona mais isso, naturalizou-se…

Só a luta muda a vida!

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